Por vezes cada objeto se ilumina
do que no passar é pausa íntima
entre sons minuciosos que inclinam a atenção para uma cavidade mínima
E estar assim tão breve e tão profundo como no silêncio de uma planta é estar no fundo do tempo ou no seu ápice ou na alvura de um sono que nos dá a cintilante substância do sítio
O mundo inteiro assim cabe num limbo e é como um eco límpido e uma folha de sombra
que no vagar ondeia entre minúsculas luzes
E é astro imediato de um lúcido sono fluvial e um núbil eclipse
em que estar só é estar no íntimo do mundo. 

poema de António Ramos Rosa

tinta da china sobre papel
42 x 29,7 cm




Ostra, 2021
aguarela e pintura digital



Na fadiga e na solidão há divino a sair dos homens.

Céline in "Viagem ao Fim da Noite".

aguarela e tinta da china sobre papel
42 x 29,7 cm




Por vezes cada objeto se ilumina
do que no passar é pausa íntima
entre sons minuciosos que inclinam a atenção para uma cavidade mínima
E estar assim tão breve e tão profundo como no silêncio de uma planta é estar no fundo do tempo ou no seu ápice ou na alvura de um sono que nos dá a cintilante substância do sítio
O mundo inteiro assim cabe num limbo e é como um eco límpido e uma folha de sombra
que no vagar ondeia entre minúsculas luzes
E é astro imediato de um lúcido sono fluvial e um núbil eclipse
em que estar só é estar no íntimo do mundo. 

poema de António Ramos Rosa

tinta da china sobre papel
42 x 29,7 cm 

Todos os anos estou atenta.
Este poema afirma e recorda.
Esta ave chama por mim como eu.

poema de Fiama Hasse Pais Brandão

aguarela e tinta da china sobre papel
42 x 29,7 cm




Talvez desejássemos acabar de vez com isso de sermos jovens, esperar que a juventude se desprenda, esperar que nos ultrapasse, vê-la ir-se, afastar-se, olhar para toda a sua vaidade, chegar com a mão ao seu vazio, vê-la passar de novo à nossa frente e depois partirmos nós, ficarmos certos de que realmente a juventude se foi e tranquilamente, pelo caminho que é muito nosso, passarmos vagarosamente para o lado de lá do Tempo, e então observarmos como as pessoas e as coisas realmente são.

Céline - "Viagem ao Fim da Noite"


Aguarela e tinta da china sobre papel
150 x 100 cm







Estranho é o sono que não te devolve.
Como é estrangeiro o sossego
De quem não espera recado.
Essa sombra como é a alma
De quem já só por dentro se ilumina
E surpreende
E por fora é
Apenas peso de ser tarde.
Como é amargo não poder guarda-te
Em chão mais próximo do coração.

poema de Daniel Faria

Aguarela e tinta da china sobre papel
150 x 100 cm


Será feita de aves a primeira sensação da manhã
ser-nos-ão concedidos os dons do voo e do sonho
permanente
juntos descobriremos a fonte do nocturno bosque
e a sabedoria do estritamente necessário
despojar-nos-emos dos corpos
dos objectos acumulados na memória
do sonho e do ouro utópico chegará a metamorfose

o tempo será rigorosamente prolongado a cada
enxertia dos pomares
da mesma árvore derramar-se-ão frutos diferentes
quando os dias se tornarem mais nítidos
o regresso é demorado
avança manhã adiante
com o crescimento das mãos e da sageza

poema de Al Berto, in “Medo”

Aguarela e tinta da china sobre papel
150 x 100 cm




Não se trata de falar,
Nem tão-pouco de calar:
Trata-se de abrir algo
Entre a palavra e o silêncio.
Talvez quando tudo tenha decorrido,
Também a palavra e o silêncio,
Fique essa zona aberta
Como uma esperança andando para trás.
E talvez esse signo invertido
Constitua um toque de atenção
Para este mutismo ilimitado
Onde palpavelmente nos afundamos

poema de Roberto Juarroz, in “A Árvore Derrubada pelos Frutos”

Aguarela e tinta da china sobre papel
150 x 100 cm

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